Um dos três suspeitos de envolvimento na maior chacina registrada em Goiás que ainda permanece preso decidiu ontem quebrar o silêncio, ao completar o 16º dia atrás das grades, no Complexo de Delegacias da Polícia Civil, na Cidade Jardim, em Goiânia. Com 1,70 metro de altura, cabelos ralos que sinalizam os seus 60 anos e com bastante receio de ter o rosto divulgado, o comerciante Alcides Batista Barros disse que não conhecia o principal suspeito da série de sete assassinatos, o garçom Aparecido Sousa Alves, de 22 anos, que lhe apontou como comparsa e, depois, morreu na tragédia com o helicóptero da Polícia Civil, juntamente com cinco delegados e dois peritos. “Nunca tinha visto Aparecido nem ouvido falar nele”, afirmou, durante conversa de 30 minutos com O POPULAR, em uma sala da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), onde está recluso.
Religioso, frequentador da Igreja Católica, o comerciante foi preso, em 30 de abril, em Frutal (MG), durante o velório das duas primeiras vítimas da chacina: o fazendeiro Lázaro Oliveira Costa, de 57, e o filho dele, o agrônomo Leopoldo Rocha Costa, de 22. O juiz Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro, titular da comarca de Caiapônia, decretou a prisão de Alcides, considerando os primeiros depoimentos de Aparecido que o apontaram como participante do crime.
Uma das três filhas do comerciante, a nutricionista Kássia, iria se casar com Leopoldo na sexta-feira da semana passada, na Paróquia Bom Jesus, em Doverlândia, cidade no Sudoeste goiano onde ocorreu a série de assassinatos.
Acompanhado de seu advogado, Alex José Duarte, Alcides disse que seu nome pode ter sido citado porque é bastante popular na cidade. “Mas não sei bem porque Aparecido fez isso. Já chorei muito depois que me colocaram na cadeia por causa dele”, afirmou o comerciante, que divide cela com outros dois presos na Denarc, já que as da Delegacia de Homicídios estão lotadas. “É muito triste ficar sem liberdade”, frisou. “Mas sou inocente”, defendeu-se, acrescentando que os moradores de Doverlândia, a cerca de 412 quilômetros de Goiânia, podem confirmar a sua idoneidade.
A prisão dele gerou bastante comoção no município. O estudante de Direito Welmo Fernandes Carvalho, de 30, disse conhecer o comerciante há 13 anos. “Alcides é popular, é conhecido de todo mundo na cidade e nunca teve problema com ninguém”, pontuou. “Não acredito que ele teve participação na chacina”, acrescentou.
O comerciante afirmou que nunca teve interesse na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, propriedade de Lázaro que fica a cerca de 70 quilômetros de sua casa, nem era contra o casamento de Leopoldo com a sua filha. “No dia que ele me pediu a mão dela em casamento, fiquei feliz, porque sabia que ele não estava apenas querendo enrolar. Fui o primeiro a receber o convite do casamento”, lembrou. Segundo disse, o agrônomo tinha “um comportamento admirável e uma cultura diferente”. “Ele jamais entrava no quarto da minha filha ou na minha casa se não fosse chamado. Era um rapaz muito bom”, ressaltou.
Alcides também disse que todos os dias se lembra da esposa Veralucia, das filhas e de dois netos, de 10 e 13 anos. Desde que foi preso, ele viu sua companheira apenas duas vezes e, depois, preferiu aguentar a distância a ter de vê-la visitando uma delegacia. “Pedi minha mulher para não trazer nada para mim para ela não se abalar mais”, disse. “Ninguém sabe o que estou passando aqui, porque quem ouve a história quer condenar. Só minha família e quem me conhece de perto sabem que eu nunca teria coragem de praticar um crime horroso como esse”, emendou.
Investigações
O delegado regional de Iporá, Cleiton Giovani Calodete, que assumiu as investigações após a tragédia com o helicóptero da Polícia Civil, disse que não tem opinião formada sobre a necessidade de manter o comerciante atrás das grandes, enquanto os trabalhos não forem concluídos. “Não sei te dizer isso porque preciso tomar conhecimento do que restou do inquérito”, afirmou.
“Vamos começar a remontar o inquérito nesta semana porque uma parte estava na aeronave que caiu”, prometeu o delegado regional. Todos os relatórios da segunda e última reconstituição da chacina estavam com o delegado Vinícius Batista, que morreu na tragédia. “Queimou tudo que estava no helicóptero”, lamentou Cleiton. (Fonte: O Popular)
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